Copa dos Campeões 1970-1971: Ajax Campeão Europeu
Nos finais dos anos 1960 e início dos anos 1970, o estilo de jogo holandês, conhecido como "futebol total", deixou uma marca indelével na história do esporte, especialmente personificado pelo Ajax naquela época.
Uma das primeiras demonstrações do poderio do Ajax foi vista na Liga dos Campeões da temporada 1970/71. O clube estava determinado a conquistar o título europeu, especialmente após seu rival, o Feyenoord, ter vencido a competição anteriormente. Curiosamente, aquela temporada viu a ausência de grandes nomes tradicionalmente associados à Copa Europeia, como o Real Madrid e o Barcelona da Espanha, Juventus, Milan e Internazionale da Itália, Manchester United, Liverpool e Leeds da Inglaterra, e o Benfica de Portugal. No entanto, o Feyenoord não conseguiu tirar proveito dessa situação, sendo eliminado na primeira rodada contra os romenos do UT Arad. A honra e a esperança holandesas, entretanto, logo foram depositadas no Ajax.
O Ajax já havia acumulado valiosa experiência europeia, chegando à final da Copa Europeia em 1969 e às semifinais da Fairs Cup em 1970. Agora, estavam prontos para causar um impacto ainda maior. A jornada começou com uma viagem à Albânia para enfrentar o Nentori Tirana. A equipe holandesa abriu uma vantagem de dois gols no início do jogo, e embora o time local tenha reagido para garantir um empate em 2 a 2, a vitória por 2 a 0 em Amsterdam selou a passagem do Ajax para a próxima fase. Na rodada seguinte, eles eliminaram o FC Basel com uma vitória convincente de 5 a 2 no agregado. No entanto, a etapa das quartas de final apresentou seus oponentes mais desafiadores até o momento.
O Celtic havia iniciado sua quinta campanha consecutiva na Copa Europeia, marcando um total de 24 gols contra equipes islandesas e irlandesas. Com a eliminação do Feyenoord, eles eram os únicos ex-campeões da competição remanescentes e eram amplamente favoritos para chegar às fases finais. Nas quartas de final, eles tiveram a oportunidade de vingar a derrota na final do ano anterior contra uma equipe holandesa, já que enfrentaram o Ajax.
O primeiro jogo em Amsterdam foi um evento morno para a maior parte do tempo, e, sem gols marcados, o Celtic estava satisfeito. No entanto, nos 30 minutos finais, o Ajax mudou completamente o cenário. No minuto 62, Johan Cruyff pegou a bola, controlou perfeitamente com o primeiro toque e, com o segundo, disparou um chute potente de pé esquerdo que venceu Williams, goleiro do Celtic, indo para as redes. Oito minutos depois, Hulshoff marcou diretamente de uma cobrança de falta, e no último minuto, Keizer driblou Gemmell pela direita antes de marcar de um ângulo apertado, garantindo ao Ajax uma vantagem de 3 a 0. Embora o Celtic tenha lutado bravamente no segundo jogo e tenha marcado um gol com Johnstone após 27 minutos, a vantagem adquirida no primeiro jogo era insuperável. Pelo segundo ano consecutivo, o Celtic foi derrotado por uma equipe holandesa, e agora o Ajax estava nas semifinais.
A temporada 1970/71 introduziu um novo método para resolver empates entre equipes que terminavam empatadas após dois jogos. A UEFA decidiu que esses jogos nas duas primeiras rodadas seriam decididos por uma disputa de pênaltis. O primeiro caso de disputa de pênaltis na Copa Europeia ocorreu em um empate por 1 a 1 na Alemanha entre o Borussia Moenchengladbach e o Everton. Depois de uma prorrogação, as duas equipes ainda estavam empatadas em 2 a 2 no placar agregado, e a decisão foi para os pênaltis. Joe Royle se tornou o primeiro jogador a perder um pênalti em uma disputa quando o primeiro pênalti do Everton foi defendido. No entanto, Ball, Morrisey, Kendall e Brown converteram suas cobranças com sucesso para o campeão inglês, enquanto Herbert Laumen errou para o Borussia e uma defesa de Andy Rankin no gol do Everton em um chute de Ludwig Muller selou a passagem dos Toffees para as quartas de final.
Surpreendentemente, o Everton não conseguiu avançar mais na competição. Contra os gregos do Panathinaikos, eles conseguiram um empate de 1 a 1 em casa no último minuto, evitando a derrota, mas o empate sem gols no segundo jogo em Atenas foi suficiente para que o Panathinaikos se tornasse o primeiro time grego a chegar às semifinais da Copa Europeia.
A segunda rodada viu o campeão italiano, Cagliari, enfrentar o campeão espanhol, o Atlético de Madrid. Embora o confronto talvez não tenha atraído tanto destaque quanto, por exemplo, Milan x Real Madrid, ele não decepcionou em drama e emoção. No jogo na Itália, o Cagliari parecia estar no comando do confronto com uma vantagem de 2 a 0 no intervalo. No entanto, um gol de Luis para o Atlético Madrid no segundo tempo deu esperanças aos espanhóis. Um hat-trick de Luis em Madrid selou a classificação do Atlético, que superou o Legia Varsóvia das semifinais da temporada anterior. Nas semifinais, o Atlético enfrentaria o Ajax, enquanto o Panathinaikos teria pela frente o Red Star Belgrade, que havia eliminado o UT Arad, responsável pela eliminação do Feyenoord, ao vencer por seis gols a um.
Ambas as semifinais foram vencidas por equipes que se recuperaram de derrotas no primeiro jogo. Em Madrid, o Atlético perdeu por 1 a 0 com um gol de Irureta para o Atlético. No entanto, os holandeses voltaram a vencer no segundo jogo por 3 a 0. O primeiro gol foi marcado por Keizer com apenas oito minutos de jogo, e Suurbier ampliou a vantagem no agregado com um gol aos 75 minutos, antes de Neeskens selar a passagem para a final com mais um gol a cinco minutos do fim. Mas essa reviravolta não se comparava à incrível recuperação do Panathinaikos contra o Red Star Belgrade. No primeiro jogo, o Red Star, impulsionado pela torcida ruidosa de Belgrado, marcou dois gols no primeiro tempo graças a Ostojic e Jankovic. Um minuto após o reinício, o placar aumentou para 3 a 0 com outro gol de Ostojic. Kamaras trouxe os gregos de volta para o jogo com um gol aos 56 minutos, mas quando Ostojic completou seu hat-trick no último minuto, o Red Star parecia ter uma vantagem intransponível de 4 a 1. No entanto, o Panathinaikos deu a volta por cima no segundo jogo. Um gol de Antoniadis no primeiro minuto deu o início perfeito, e quando o mesmo jogador marcou novamente aos 55 minutos, eles sabiam que tinham uma chance. O gol da vitória veio aos 64 minutos, marcado por Kamaras, garantindo a passagem do Panathinaikos para a final pelo critério de gols fora.
A final da Copa Europeia entre equipes da Holanda e da Grécia mostrou que a principal competição de clubes do continente já não era exclusividade dos maiores países do futebol. A presença do Panathinaikos nesse grande evento foi, sem dúvida, uma surpresa, mas eles conquistaram seu lugar em Wembley após vitórias sobre o Everton e o Red Star Belgrade. Comandados por Ferenc Puskas, uma lenda da Copa Europeia, o capitão Mimis Domazos desempenhou um papel fundamental no time grego. Apelidado de "o General", ele era, aos 28 anos, uma das estrelas mais proeminentes da Grécia, capitão da seleção nacional e casado com a principal cantora pop do país. Domazos já havia liderado o Panathinaikos a sete títulos de campeão nacional. Outro destaque na equipe grega era o veterano Aristidis Kamaras. Advogado qualificado com uma próspera carreira em Atenas, ele estava em sua nona temporada jogando no ataque do clube e havia marcado em ambos os jogos das semifinais, perseguindo o recorde de 12 gols de seu gerente Puskas na temporada 1959/60.
Após sua aparição na final de 1969 e a vitória do Feyenoord um ano depois, a presença do Ajax em Wembley foi menos surpreendente. A estrela do time ainda era Johan Cruyff, alto e esguio, com grande controle e aceleração, suas habilidades brilhantes com a bola significavam que ele frequentemente criava tantos gols quanto marcava. Aos 24 anos, ele era amplamente considerado um dos melhores jogadores do mundo. O capitão Velibor Vasovic estava disputando sua terceira final, e apesar de ter marcado nas duas finais anteriores, ele ainda estava em busca de sua primeira vitória. Outros jogadores remanescentes do time de 1969 que perdeu para o Milan incluíam os defensores Suurbier e Hulshoff, bem como os pontas Keizer e Swart. Dois dos novos integrantes do time estavam no meio-campo, dois jovens internacionais holandeses chamados Gerrit Muhren e Johan Neeskens, que desempenhariam um papel fundamental no sucesso do Ajax nos próximos anos.
No grande dia, Wembley estava repleto de buzinas e cornetas, pois milhares de torcedores holandeses e gregos se reuniam no famoso estádio. O jogo viu o Ajax abrir o placar rapidamente, quando Van Dijk marcou de cabeça após um cruzamento de Keizer. A partir desse momento, o time holandês controlou o jogo. A tática principal do Panathinaikos era enviar bolas altas em direção à cabeça de Antoniadis, mas com o grande centroavante sendo marcado de perto por Hulshoff, os gregos raramente ameaçaram a defesa do Ajax. A única razão pela qual o jogo não estava efetivamente decidido no intervalo foi a atuação excepcional de Economopoulos no gol do Panathinaikos, já que ele negou Van Dijk e Keizer em particular. No intervalo, Nico Rijnders, o meio-campista defensivo que sempre sofria com uma alta taxa de pulsação, desmaiou e foi substituído por Horst Blankenburg - tragicamente, Rijnders morreria de um ataque cardíaco apenas seis anos depois. À medida que o jogo avançava e o Ajax ainda liderava por apenas um gol, os gregos, incentivados pelo incansável Domazos e Elefterakis no meio-campo, entraram cada vez mais no jogo. No entanto, eventualmente, o time holandês, liderado pelo brilhante Cruyff, selou a partida a apenas dois minutos do fim, quando ele deu um toque sutil por cima da defesa grega e o jovem substituto Arie Haan chutou para o gol.
Por mais bravura que os gregos demonstrassem, a classe do Ajax prevaleceu no final, e os jogadores holandeses puderam comemorar uma vitória notável. Apenas dois anos antes, eles haviam ficado aquém no grande palco, mas agora mostraram que eram o novo time a ser batido. A Holanda agora era a potência do futebol europeu, e com jogadores como Cruyff, Neeskens e Haan, todos ainda com muitos anos de futebol pela frente, seria necessário algo especial para tirar o troféu de Amsterdã.
Ficha Técnica da Final:
Ajax 2x0 Panathinaikos
Escalações:
Local: Wembley, Londres.
Gols: Van Dijk 5'; Haan 87'.
Árbitro: Jack Taylor (Inglaterra).
