No tripolarizado Campeonato Português, é raro vermos surpresas. Nos últimos anos, o único clube a ousar se meter entre o trio de ferro foi o Braga. Em 81 anos de Liga, apenas cinco clubes conseguiram levantar a taça, sendo que 79 delas foram para Benfica, Porto e Sporting, e nesta atual temporada, o campeão também será um dos três. Apenas dois clubes da periferia já conseguiram conquistar o título português: o Belenenses em 1946, e o Boavista em 2001. E é sobre esta conquista dos axadrezados, que completa 15 anos em 2016, que nós iremos falar hoje. O Boavista foi fundado em 1903, por um grupo de jovens portugueses e ingleses, na famosa cidade do Porto. Mesmo que tenha sido o primeiro clube do futebol português a se profissionalizar, o Boavista viveu na maioria dos anos à margem do Porto, sem dúvidas a grande força da cidade. Contudo, o Boavista também teve seus bons resultados pelo caminho. Entre os anos de 1970 e 1980, a equipe era a quata força de Portugal, e vez que outra terminava no pódio da Liga NOS, ultrapassando um dos grandes. Na temporada 1991-1992, chegou a eliminar a Internazionale da Copa da UEFA, mas caiu no meio do caminho. Faltava a grande conquista para a afirmação. E ela só veio na segunda metade dos anos 90, com a Copa de Portugal da temporada 1996-1997. Na final, triunfo sobre o Benfica, com dois gols do Boliviano Erwin Sanchéz. A partir daí, passou a faltar a conquista da Liga Sagres. A equipe até foi vice-campeã na temporada 1998-1999, mas perdeu gás na reta final, e o título terminou justamente com o rival Porto. Neste meio tempo, reformulaçõs foram feitas no elenco. Erwin Sánchez, o Platini dos Andes, chegou a ser vendido ao Benfica, mas fracassou e retornou ao clube. Outros destaques do time do final dos anos 1990, como Hasselbaink, e Nuno Gomes, também foram vendidos, gerando caixa para que reforços pudessem chegar.
A sonhada conquista da Liga Sagres, viria na virada do Século. Apostando nas categorias de base e na contratação de jogadores em ascensão, o Boavista armou um plantel montado a imagem e semelhança do seu treinador, Jaime Pacheco. Como jogador, ele lutava por cada bola como se fosse um prato de comida. E um de seus grandes méritos, foi levar este espírito aos seus jogadores. O símbolo disto foi uma vitória sobre o Porto, por 1x0, ainda na metade do Campeonato. Os portistas lideravam a liga até aqule ponto, mas sentiram o golpe. A partir dali, o Boavista inciou uma reação impressionante, assumindo a liderança na virada do primeiro para o segundo turno, e apenas administrando a ponta na reta final. A Campanha bastante regular, culminou na conquista da Taça, com uma rodada de antecipação, após uma goleada de 3x0 sobre o Deportivo Alves.
A campanha como mandante, foi impressionante. Das 23 vitórias no Campeonato, 16 foram na 17 partidas como mandante, um aproveitamento praticamente perfeito. A equipe, em junção com a torcida, transformava o Estádio do Bessa em um verdadeiro Caldeirão. Em campo, podemos destacar muito a espinha dorsal daquela equipe. Começando pelo goleiro Ricardo, aquele mesmo que brilhou durante anos com a Seleção de Portugal. A defesa, muito bem armada por Pacheco não tinha grandes destaques individuais, mas era muito forte com Rui Oscar na lateral-direita, Litos e Pedro Emanuel na zaga, e Erivano como o lateral-esquerdo. O meio de campo começava com um dos grandes pilares da equipe, o volante Petitt. O jogador liderava o setor, com a sua reconhecida garra, aliada a grande técnica e qualidade na saída de Bola. Ao seu lado, atuavam Rui Bento e Martelinho, dois coadjuvantes, que se sacrificavam muito a favor do coletivo. O ataque do bem fechado 4-3-3, contava com o supracitado Erwin Sánchez, e os brasileiros Duda e Elpídio Silva, totalmente desconhecidos por aqui. O último, foi o artilheiro da equipe por sinal.
Com a conquista da Liga Sagres, o Boavista se classificou para a UEFA Champions League 2000-2001. Da base titular, só perdeu Litos para o Málaga. Para o seu lugar, veio o brasileiro Paulo Turra, destaque do Caxias campeão Gaúcho em 2000. A grande contratação para a UCL, no entanto, foi a do atacante Márcio Mexerica, que teve passagens por Juventude, Atlético-MG, Santo André, Portuguesa e Galatasaray. O Boavista caiu em um bem complicado na sua primeira Champions League, ficando ao lado de Liverpool, Borussia Dortmund e Dynamo Kiev. Na segunda fase de grupos, os portugueses ficaram ao lado de Manchester United, Bayern de Munique e Nantes. Ofereceram resistência, mas acabaram eliminados. Na Liga Sagres, o Boa Vista mais uma vez liderou durante várias rodadas, mas o acúmulo de competições pesou. A equipe perdeu gás e o título, para o Sporting do artilheiro brasileiro Jardel. Na temporada 2002-2003, já sem Petit e Ricardo, o Boavista deu o canto do Cisne. Acabou eliminado ainda nas etapas pré-grupos da Champions pelo Auxerre. Foi muito bem na Copa da Uefa, eliminando Paris Saint-Germain, Hertha Berlim e Málaga, mas caindo diante do Celtic, nas semifinais. Contudo, a campanha na Liga Nacional não foi boa. O técnico Jaime Pacheco deixou o time no final da temporada, e junto com ele se foram mais jogadores. Começava uma grande derrocada.
Na temporada 2007-2008, apesar da nona posição colocação na Liga Sagres, o Boavista acabou rebaixado por conta de uma decisão jurídica do Comitê de Disciplina da federação portuguesa de Futebol, sob a alegação de ter subornado árbitros em jogos da temporada 2003-2004, no episódio conhecido como o "O Apito Final". O Porto também foi punido, mas de uma maneira bem mais branda, perdendo apenas seis pontos na tabela.
Foram vários anos ocupando a segunda e a terceira divisão de Portugal, o que comprometeu muito a estrutura e as finanças do Boavista. Somente no dia 31 de março de 2014, o clube finalizou o processo na Justiça que o inocentava, e retonou à Primeira Divisão.
Desde então, a luta é para se manter na elite. Nesta temporada, a manutenção na Liga NOS foi alcançada, mas a equipe ainda não conseguiu sair da segunda metade da tabela, terminando na 14º colocação. Voltar a conquistar a Liga Sagres, parece um sonho distante. Quem sabe um dia?
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