Tivemos entre o dia 20 de maio e o começo de junho, a disputa do Mundial Sub-20 2017, em sua versão masculina. O certame foi disputado na Coréia do Sul, e contou com bom futebol e revelações.

Argentina cai na primeira fase, e asiáticos são destaques



Mais uma vez, a Argentina decepcionou em um mundial de base. No Sub-20, foi rainha entre 1995 e 2007, na chamada era José Pekermann (mesmo que em um determinado momento José tenha assumido a Seleção principal, e Sergio Batista se encarregado da base), com cinco títulos em 12 anos. Contudo, nos últimos 10 anos, a Argentina soma duas não classificações para o torneio, duas eliminações na fase de grupos, e apenas uma participação nas quartas-de-final, quando caiu diante de Portugal nas penalidades.

Em 2017, contudo e dado os problemas da AFA, a campanha, e acima de tudo, o futebol apresentado em campo, foram relativamente bons. A estréia contra a Inglaterra foi claramente prejudicada por uma expulsão feita pelo árbitro de vídeo, e terminou com derrota de 3 a 0. Depois, um novo resultado negativo, com a derrota de 2 a 1 para a Coréia do Sul, dificultou bastante as coisas. Nem mesmo a goleada de 6 a 0 sobre Guiné salvou a situação, deixando a albiceleste apenas como a 5° melhor terceira colocada, e na 17° posição geral. Mesmo assim, o time apresentou bons valores, como o volante Santiago Ascacibar e o atacante Lautaro Martínez, justamente o atleta expulso pelo vídeo na primeira rodada.

Se a Argentina decepcionou, Vunuatu surpreendeu. Mesmo goleada pela Venezuela, a seleção da Oceania ficou a um gol de empatar com México e Alemanha, e foi uma das boas surpresas do certame. O único asiático a ser eliminado na fase de grupos foi o Irã, que contudo, demonstrou a mesma força defensiva da seleção principal comandada pelo português Carlos Queiroz, e só não avançou por pecar demais na hora de atacar. De resto, as outras quatro seleções do eixo Ásia/Oceania avançaram da fase de grupos (sendo elas Nova Zelândia, Japão, Coréia do Sul e Arábia Saudita).

Os donos da casa caem nas oitavas



Mesmo após a boa primeira fase e jogando em casa Coréia do Sul, a Coréia do Sul não conseguiu passar por Portugal nas oitavas. O time do craque Lee, o famoso "Messi Coreano", perdeu por 3 a 1 para os lusitanos, e deu adeus ao seu torneio.

O Japão não conseguiu passar pela Venezuela, enquanto a Arábia Saudita caiu diante do Uruguai. A Costa Rica, mesmo mostrando uma ótima estrutura defensiva em seu 3-5-2, muito bem armado pelo treinador argentino Marcelo Herrera, acabou sendo derrotada por 2 a 1 pela Inglaterra, e foi outra eliminada nas oitavas.

Com uma de suas gerações menos animadoras dos últimos anos, onde só se destacavam nomes como Jannes-Kilian Horn, Maximilian Mittelstädtel, o meia Suat Serdat e o centroavante Fabian Reese, a Alemanha deu adeus ao Mundial ao ser eliminada pela surpreendente Zâmbia. Após empate em 3 a 3 no tempo normal, os africanos marcaram na prorrogação, e venceram por 4 a 3.

Ainda nesta etapa, tivemos o México vencendo por 1 a 0 e eliminando Senegal, os EUA massacrando a Nova Zelândia e o clássico europeu, entre Itália e França.

França: favorita eliminada precocemente



Itália e França fizeram a reedição da final da Euro sub-19 2016, nas oitavas-de-final do Mundial Sub-20 2017. E se naquela ocasião, os franceses golearam por 4 a 0, desta vez, o resultado foi outro. Com Pezzela letal pelo flanco direito e Favilli sendo rei, os italianos controlaram os franceses, fizeram 2 gols, e venceram por 2 a 1. O gol gaulês foi marcado por Augustin.

Mesmo desfalcada por Mbappé e Dembelé, seus dois melhores jogadores da geração 1997/1998, a França apresentou bons valores neste Mundial Sub-20. Não conseguiu, contudo, repetir a taça de 2013.

Quartas-de-final definem final América do Sul x Europa



Mais uma seleção europeia deu adeus ao Mundial Sub-20 nas quartas-de-final. Portugal empatou com o Uruguai em 2 a 2, perdeu nos pênaltis por 5 a 4, e se viu eliminado de uma competição onde era favorito. Na semifinal, os uruguaios teriam a seleção venezuelana pelo caminho, já que a vinotinto bateu os EUA por 2 a 0, avançando na competição. A geração dos meias Pedro Rodrigues, Gedson Fernandes e Xadas, além dos extremos José Gomes e Diogo Gonçalves, gerava boas expectativas, como em 2015, deixou a competição em sua antepenúltima etapa, diante de um sul-americano.

Se uma semifinal foi totalmente Sul-americana, a outra, foi totalmente europeia. A Itália derrotou Zâmbia, em um jogo louco. Os italianos empataram duas vezes contra os africanos, uma delas em cima da hora, para marcar com um homem a menos na prorrogação e triunfar por 3 a 2. A última semifinalista foi a Inglaterra, que venceu o México por 1 a 0, graças a um gol de Solanke, aos 47 minutos.

Em Zâmbia, podemos destacar o atacante Fashion Sakala, de ótima capacidade de drible e condução de bola. Ele foi autor de quatro gols no decorrer da campanha, mesmo número de gols de Josh Sargent, principal destaque da seleção dos EUA. No Mexico, destaque especial para o zagueiro Edson Álvarez, jogador do América, figura dentro de sua área e mesmo no jogo ofensivo, ajudando sua equipe a chegar ao ataque e aparecendo para arrematar pelo alto, especialmente nas bolas paradas.

Uruguai: bom, mas menos do que o esperado



Precisando muito prospectar novos talentos, o Uruguai foi à Coréia do Sul com a expectativa de realizar uma boa campanha. Até o fez, alcançando as semifinais, mas agora precisará que estes atletas confirmem expectativas geradas. Principal jogador desta geração uruguaia, Rodrigo Bentacur, jogador do Boca Juniors, já vendido para a Juventus, fez um Mundial abaixo do esperado.

Contudo, alguns nomes superaram as expectativas, especialmenyte no sistema defensivo, como o goleiro Santiago Mele, os zagueiros Agustín Rogel e Santiago Bueno, o mediocentro Federico Valverde, e os laterais José Luis Rodríguez e Mathías Olivera.

Itália fica devendo em campo, mas faz boa campanha



Após estrear perdendo para o Uruguai por 1 a 0, a Itália reagiu, passou da fase de grupos, eliminou a França nas oitavas-de-final, e Zâmbia nas quartas, mas caiu diante da Inglaterra nas semifinais, perdendo por 3 a 1. Em suma, o time italiano mostrou como a maior virtude a facilidade para atacar o espaço com os laterais e os extremos, mas em momento algum se mostrou segura ao defender sua área e arredores, missão fundamental para uma proposta de jogo reativa ser bem praticada.

Contra Zâmbia, a defesa italiana sofreu dois gols, e contra a França, já havia sentido pânico. Bastou a Inglaterra melhorar a sua criação que marcou três gols em um tempo - e poderia ter sido mais. O principal destaque italiano foi o extremo Orsolini, jogador do Ascoli, que já pertence a Juventus. Com ótima capacidade para atacar o espaço e pisar na área, marcou cinco gols no decorrer da campanha. O goleiro Zaccagno também foi um dos principais nomes da posição. O atacante Favilli, os meias Matteo Pessina e Rolando Mandragora, e os laterais Giuseppe Pezzella e Federico Dimarco, também foram figuras destacáveis.


Final decreta Inglaterra campeã




Enfim, chegou o segundo título mundial dos ingleses. A vitória por 1 a 0 sobre a Venezuela foi a consagração de um trabalho de base que parte dos clubes, e reflete hoje na seleção, que só espera, em breve, ter resultados também na categoria principal.

A Inglaterra foi melhor do que a Venezuela na primeira etapa, e mereceu o seu gol. No final do primeiro e no segundo tempo, os Venezuelanos, obrigados a produzir volume forçado, até criaram mais chances e tiveram um pênalti a seu favor, mas pararam no nervosismo ou no ótimo arqueio inglês Woodman. Contudo, sobram motivos para a Vinotinto comemorar, e se encher de esperanças.

A Inglaterra de Paul Simpson não era sólida taticamente, e teve várias dificuldades para furar retrancas de equipes menos qualificadas. Contudo, se garantia através da qualidade individual de seus homens de frente, que arrumavam espaços na base da qualidade. Kieran Dowell, Dominic Solanke, Ademola Lookman e Dominic Calvert-Lewin reuniam movimentação, técnica e boa capacidade de arremate. Ao rondarem qualquer área adversária, traziam ao menos perigo. As entradas de Ojo no decorrer das partidas também mudavam rumos, dada a velocidade do atacante do Liverpool. Neste sentido, o trabalho dos interiores Lewis Cook e Josh Onomah era fundamental, com passes verticais, que buscavam sempre a transição e a profundidade, muitas vezes também dada pelos laterais  Jonjoe Kenny e Kyle Walker-Peters nas subidas ao ataque.

Uma Venezuela histórica



A Venezuela precisava de um resultado que provasse o avanço no futebol masculino, e este mundial trouxe. A vinotinto foi vice-campeã mundial com um sistema ofensivo simples, mas reunindo muito talento, que enche de ilusões os aficionados do país.

Adalberto Peñaranda é a principal promessa é o principal jogador venezuelano do grupo que foi à Coréia do Sul. Seu Mundial foi de ótimos momentos, e outros de um jogador que ainda não está mentalmente pronto, como no pênalti perdido na final. Pertencente ao Watdord, os constantes empréstimos à Granada, Málaga e Udinese podem estar fazendo mal à um jovem, que precisa de sequência e confiança para estabelecer o seu futebol na plenitude.


Se Peñaranda foi destaque em uma ponta, Sergio Córdova o foi na outra. Contudo, o meia Ronaldo Lucena sempre foi um destaque muito forte nas bolas paradas, se tornando um dos principais nomes do Mundial.


A seleção do torneio



Goleiro: Wuilker Faríñez (Venezuela)

Wuilker Fariñez só foi sofrer o seu primeiro gol na fase de grupos do Mundial Sub-20 na prorrogação das quartas de final, o que fala muito sobre a sua qualidade. Pouco lembra os goleiros sul-americanos, a não ser pela incapacidade de dominar a área, mas tem boa saída de bola, se posiciona com competência embaixo das traves, e não precisa usar a todos momentos reflexos para defender, embora os tenha como recurso.


Laterais: Jonjoe Kenny e Kyle Walker-Peters (Inglaterra)

Os dois laterais da Inglaterra eram peças chave no apoio e na transição, recebendo bem as bolas saídas da zaga ou do goleiro Freddie Woodman, outro ótimo atleta da posição neste mundial.Assim, não poderiam deixar de estar presentes na seleção do Campeonato.


Zagueiros: Nahuel Ferraresi (Venezuela) e Agustín Rogel (Uruguai)

Nahuel Ferraresi foi o grande líder do sistema defensivo venezuelano, ao lado do goleiro Wuilker Faríñez. O zagueiro do Deportivo Táchira é forte fisicamente, imponente pelo alto, e competente na saída de bola, também apoiando bem o ataque em suas descidas. Já o uruguaio Agustín Rogel, também se destacou pelo futebol maduro, de ótima saída de jogo e posicionamento, mesmo sem tanta velocidade.


Mediocentros: Federico Valverde (Uruguai) e Yangel Herrera (Venezuela)

Em uma seleção que buscou jogar de uma maneira distinta à habitual de sua cultura futebolística, Federico Valverde foi o eleito o Bola de Prata do Mundial Sub-20, e não foi à toa. O jogador do Real Madrid se posiciona bem, desarma com eficiência, e começa as jogadas de maneira competente, seja se associando com passes curtos, seja com bolas longas. Yangel Herrera, jogador do New York City, formou com  Lucena um ótimo double-pivote, onde o primeiro era o cão de guarda, e o segundo o maestro nas bolas paradas e na associação com os atacantes. Se Valverde foi o Bola de Prata, Herrera foi o Bola de Bronze da competição.



Extremos: Riccardo Orsolini (Itália) e Ademola Lookman (Inglaterra)

Riccardo Orsolini se tornou a principal arma da Itália no Mundial sub-20. Ótimo condutor de bola, o extremo direito chamou a atenção pela ótima capacidade de atacar o espaço, e arrematar com precisão cruzamentos na área. Já Ademola Lookman começou o Mundial como reserva, mas logo ganhou a posição na Inglaterra. O jogador do Everton tem ótimo ritmo de associação, e se destacou ao fechar na área e se associar com Solanke, se tornando num diferencial dos Três Leões.


Atacantes: Dominic Solanke (Inglaterra) e Andrea Favilli (Itália)

Eleito o Bola de Ouro deste Mundial Sub-20 2017, Dominic Solanke partia da mediapunta, mas era um atacante nesta Inglaterra. Com a chegada do mata-mata, chamou a responsabilidade, sendo um diferencial com sua ótima capacidade de arrematar de média distância. Já Favilli era o centroavante italiano, mas jogando de costas se tornava um ponto de resistência do qual partia a manutenção da bola na frente, e a armação das jogadas.