Cristiano Ronaldo: a metamorfose de um craque


Um jogador de época. Assim podemos definir Cristiano Ronaldo. Um craque capaz de redefinir parâmetros, estabelecer recordes, e fazer parecer fácil marcar gols como se fosse uma máquina. Contestado por alguns, admirado por muitos, Ronaldo se destaca há mais de dez anos, desde quando vestia a camisa do Manchester United. Em 2009, se transferiu para o Real Madrid, onde daria início à uma nova era.

Um extremo de drible e contundência, Cristiano Ronaldo, entre as Copas do Mundo de 2006, onde de fato apareceu com relevância para o grande público, e de 2010, era por vezes muito contestado, e até vaiado por torcidas adversárias, em estádios por onde passava. Contudo, a partir de 2011, Ronaldo começou a nos mostrar uma capacidade diferenciada. Ele nos mostrou durante a carreira, duas versões diferentes em um mesmo jogador. Do extremo fantasista, Ronaldo se transformou em um "Falso" extremo, que fechava da esquerda para o centro em diagonais. Virou o gênio dos ataques ao espaço, das desmarcações, do último toque na bola, ganhando uma capacidade goleadora ímpar.

Nesta nova versão, Ronaldo também se caracterizou como o mais completo finalizador da história, seja do posicionamento, à maneira como toca na bola. Cristiano Ronaldo, só não é o melhor finalizador da história, por conta de este posto pertencer ao seu contemporâneo Lionel Messi, que também é o seu rival direto nas disputas recentes pela Bola de Ouro. Poucas vezes se viu um jogador mudar tanto suas características quanto CR7, com poucos precedentes na história. Ferenc Puskás, Ronaldo e Romário foram outros exemplos de jogadores que mudaram para seguir rendendo, mas nem um destes foi melhor de fato em sua segunda versão, na relação com a primeira.


Ferenc Puskás era o melhor jogador do mundo em meados dos anos de 1950. Estava na frente de Ladislao Kubala, Stanley Mathews, e Fritz Walter. Alfredo di Stefano ainda era um nome desconhecido na Europa, mas o argentino passaria a ser de fato o melhor do Mundo nos anos seguintes, e potencializou uma mudança muito grande no jogo de Puskás. O craque magiar sofreu uma grave lesão durante a Copa do Mundo de 1954, e logo depois ficou um tempo sem jogar por conta de um golpe militar na Hungria. Quando voltou aos gramados, para defender o Real Madrid, já não tinha mais a velocidade e a explosão de outrora, mas tinha mais força física, e ao seu lado, um craque de enorme talento como Di Stéfano. Puskás, de fato, deixou o brilho do grande Madrid para o hispano-argentino, mas seguiu como um atacante, de fato. Um ponta capaz de cortar para o meio e se tornar um finalizador com arremate extremamente preciso e forte, capaz ainda de assim fazer a diferença para o Real, com o qual ganhou a Europa diversas vezes. Além de Di Stéfano, Pelé, Eusébio e Garrincha também brilhavam, mas não tiravam o brilho do eterno magiar.

Ronaldo e Romário eram atacantes movediços, de dribles impossíveis e arrancadas longas, em especial no caso do fenômeno. Contudo, o primeiro sofreu uma das piores lesões da história do futebol, e o segundo viu o tempo passar. Romário, aos poucos, se tornou o Rei das grandes áreas, com um senso de posicionamento fantástico. Já Ronaldo, passou a deixar de lado as arrancadas na era pós-lesão, e passou a jogar mais perto do gol. Assim, foi um artilheiro fundamental para a seleção brasileira na Copa do Mundo de 2002, e para o Real Madrid, durante quase quatro temporadas. O sobrepeso o levou a ser um jogador ainda mais direto e de espaço curto no Corinthians, onde enquanto pode, ainda foi capaz de decidir jogos.

No caso de Cristiano Ronaldo, a mudança foi gradual. Ele começou a mudar em sua segunda temporada no Real Madrid, após a chegada de José Mourinho. Com seu compatriota, CR7 passou a se mover da ponta para o meio, alho que já fazia na reta final de Manchester United, e finalizar cada vez mais, também virando um artilheiro nato. Aos poucos, com o passar dos anos e das lesões, e a chegada de Carlo Ancelotti, Cristiano Ronaldo, para evitar o desgaste, e chegar em melhor nível e inteiro ao final das temporadas, virou um jogador cada vez mais de centro, atuando no Madrid ao lado de Benzema, contando com  recuos de Bale e Dí Maria, para o auxiliar.

CR7 foi deixando de lado o drible, os passes e associações,  e especialmente, a afobação na hora de finalizar. Ele ganhou um senso de saber quando e aonde arrematar que o torna único. Hoje, Cristiano Ronaldo já foi cinco vezes artilheiro da Champions League, e soma com o Real três títulos continentais em quatro anos, marcando gols importantes em todos. Pode não ter sido, em nenhuma destas três ocasiões, o jogador mais impactando em cada conquista, parte que coube à Dí Maria, Bale e Isco, respectivamente, mas seus gols foram fundamentais em todos os momentos.

Se Puskás teve a concorrência de Pelé, Di Stéfano, Eusébio e Garrincha em seu tempo, e Ronaldo foi rival de Zidane, Batistuta e Ronaldinho na sua época, Cristiano Ronaldo encontrou um gigante como Messi pelo seu caminho. Ao contrário de CR7, que mostrou duas versões diferentes, Messi nos mostrou uma versão mais evoluída do que a sua primeira, a do "falso 9", superior ao extremo-direito. E isto, é o diferencial dos dois gênios: saberem mostrar versões diferentes e se reinventar, para seguir competindo grande, do começo ao final da carreira.



Imagem: Real Madrid