Guia do Mundial de Clubes 2017: Grêmio



O Grêmio chega ao Mundial de Clubes de 2017 embalado pela conquista da Libertadores, após a final vencida sobre o Lanús, e sonhando com a taça, tão bem credenciado como nenhum outro sul-americano, desde o Corinthians em 2012. O tricolor gaúcho já foi campeão do Mundo em 1983, após um triunfo sobre o Hamburgo na prorrogação por 2 a 1, com dois gols de Renato Portaluppi, antigo ponta-direita, que hoje é o treinador da equipe. Ainda perdeu a final do Interclubes em 1995, para o Ajax, nas penalidades máximas.

É bem claro que, nos últimos dois anos, nenhum clube brasileiro jogou mais futebol que o Grêmio na média, ou apresentou um projeto tão sólido e interessante, quanto o Imortal. Neste meio tempo, o Corinthians de Tite, e o Palmeiras de Cuca, por exemplo, foram os melhores em um determinado período, mas não foram tão regulares quanto o tricolor gaúcho. O Corinthians de Carille, e o Botafogo de Jair Ventura também foram muito sólidos por algum período, mas apresentaram instabilidades, consequências de expectativas criadas e geradas pelos torcedores, que erraram a mão na hora de cobrar depois.

Ainda em meados de 2015, Roger Machado começou a implementar no Grêmio, uma filosofia de jogo mais elaborada, com propostas similares às das principais potências, e surpreendentemente conseguiu o fazer em pouco tempo. Roger sucedeu uma missão dada à Felipão anteriormente, e não sequenciada pelo veterano comandante, que recentemente deixou o comando do Guangzhou Everegrande. Sem a bola, o Grêmio de Roger alternava entre executar a marcação pressão com o quarteto de frente na saída de bola do rival, ou se fechar com as duas linhas de quatro muito próximas, com Douglas e Luan à frente da segunda linha, como atacantes. Com a bola, o time buscava tocar com profundidade e amplitude, e ao perder a pelota, executava marcação pressão na saída do rival, novamente. Mas faltavam mecanismos no ataque, ideias com a bola, algo que Renato trouxe.

O período de maior oscilação recente do Grêmio se deu no final da era Roger, mas após a chegada de Renato, tudo entrou novamente nos eixos. O clube gaúcho conquistou a Copa do Brasil 2016, encerrando um jejum de 15 anos sem taças, e faz um 2017 fantástico. O Grêmio, chegou a lutar pelos títulos do Brasileirão e da Copa do Brasil 2017, onde foi semifinalista, caindo diante do campeão Cruzeiro nas semifinais, nos pênaltis. Ainda foi campeão da Libertadores com uma das melhores campanhas da fase de grupos, passando por Godoy Cruz, Botafogo e Barcelona-Equ no mata-mata, respectivamente, até vencer o Lanús na decisão, com dois triunfos: 1 a 0 em casa, e 2 a 1 fora.

Para analisar o Grêmio 2017, todo e qualquer preconceito com relação ao lado folclórico de Renato Portaluppi deve ser deixado de lado. O técnico vem executando um ótimo trabalho no tricolor gaúcho. Ele soube unir convicções suas aos elementos já padronizados por Roger Machado, durante o ano em que permaneceu na Arena. O Grêmio quase sempre partia no primeiro semestre de um 4-2-3-1, com Ramiro na extrema-direita, Pedro Rocha pela esquerda, e Luan na mediapunta, por trás de Barrios. Na ausência do paraguaio, Luan virava falso 9, como foi na maior parte do tempo com Roger. Barrios, assim como o volante Michel e o lateral-esquerdo Bruno Cortez, foi uma aposta da diretoria do Grêmio que deu muito certo. Após a venda de Pedro Rocha ao Spartak Moscou, Renato Portaluppi passou a escalar Fernandinho pela extrema esquerda. Um ponta de amplitude, com pé natural, ao contrário do atleta vendido ao futebol russo. Por vezes, ele tem se embolado com Cortez, o lateral pelo setor, e uma correção nestes movimentos será fundamental para atuar em bom nível no Mundial.


Gremio - Football tactics and formations


Com a bola, o Grêmio circuita o esférico. Sem ela, o time atua no 4-4-2 em linha, executa uma forte pressão ao adversário que tem a bola, ao mesmo tempo em que faz o recuo das suas linhas, geralmente bem compactas. A marcação é feita com encaixes individuais, com um jogador pegando um adversário na zona. Na defesa, Pedro Geromel e Kannemann dão segurança ao virtuoso goleiro Marcelo Grohe, e formam a melhor dupla de zaga do Brasil. A transição defensiva é facilitada por conta dos próprios encaixes, e da pouca mutação no sistema no decorrer dos jogos.

Contudo, outros movimentos do Grêmio são muito modernos. A transição ofensiva começa com os zagueiros e sempre passa pelos volantes. Michel e Arthur (ou Jailson, Maicon e Ramiro) começam a jogar com passes, e se associam com com os homens de frente e os laterais. A equipe joga com triângulos, que facilitam a circuitação da bola, e ajudam a abrir espaços nas defesas adversárias. Até mesmo Ramiro e os laterais atacam espaços, inclusive na diagonal, furando as defesas e gerando concessões por parte do adversário. Os sistemas de marcação do futebol brasileiro, dificilmente conseguem conter este tipo de jogada, por conta da ainda baixa evolução. Dificilmente o Grêmio deixa de criar situações de gol em uma partida. Em nível internacional, logicamente, o trabalho é mais dificultado.

O Grêmio estreará no Mundial de Clubes da FIFA diretamente na semifinal, dia 12 de Dezembro, contra Pachuca ou Wydad Casablanca. Um jogo para ter atenção, especialmente com a ausência de Arthur, que se lesionou durante a final da Libertadores. Se passar, deve travar um bom duelo tático com o Real Madrid de Zidane. O tricolor terá de optar entre defender com blocos baixos, ou avançar suas linhas pressionando os merengues desde a sua saída de jogo, que é a opção mais provável.




Imagem: Grêmio