Atualmente, definir uma equipe como "de posse", ou "de contra-ataque", se tornou algo comum, mas muito, muito superficial. Não dá para dizer que uma equipe atue de uma só maneira, e especialmente, que obtenha sucesso se o fizer assim. O próprio Barcelona de Pep Guardiola, que ficou caracterizado por ser um time de muita posse, era um time de possessões curtas, que muitas vezes perdia a bola e retomava ela rapidamente, e em outras usava a posse para controlar tempo e espaço, e a partir daí, também se defender. Mais do que isto, o ano de 2017 mostrou que a tendência atual é que as equipes que melhor saibam se adequar não aos adversários, mas sim as circunstâncias de cada jogo, são aquelas que maior sucesso devem obter nos próximos tempos.
O próprio supracitado Pep Guardiola, cada vez mais tem conseguido isto. Após marcar época com o Barcelona, ele foi à Alemanha treinar o Bayern,e em território germânico fez a perfeita fusão do modelo baseado no jogo de posição hispano-holandês, com as características base do futebol germânico, numa verdadeira União dos conceitos por vezes empregados por Cruyff e Beckembauer, por exemplo. No Manchester City, Guardiola encarou ainda mais desafios, e talvez por isto, em sua primeira temporada na Inglaterra, em boa parte, seu City em nada tenha parecido um Pep Team. Mas nesta segunda, Guardiola conseguiu adotar um modelo de jogo adaptado à Premier League e as circunstâncias, fazendo também um gestão de elenco boa, aliada à planejamentos para cada jogo que tem encaixado perfeitamente. Ir contra a cultura de uma liga não é fácil, mas Guardiola vai conseguindo se impor, e deve, em 2018, levar o seu Manchester City ao título inglês, e quem sabe, mas algum outro.
Se o Milan de Arrigo Sacchi já havia em muito modificado a ocupação de espaços entre o final dos anos de 1980 e o começo dos anos de 1990, promovendo, inclusive, mudanças na regra, o jogo tem voltado, cada vez mais, a acontecer em um espaço curto. Dominar o espaço, seja com posse de bola, seja com suas linhas de marcação, é cada vez mais importante, por conta de o futebol seguir sendo um jogo onde ganha quem marca mais gols, mas cada vez mais, ganha quem controla o espaço. E num futebol de luta por espaço, onde questões como o pressing e o jogo entre as linhas são cada vez mais vitais, as linhas de 5 ganham cada vez mais espaço, em uma tendência de 2017. Seja para uma equipe jogar mais à frente, seja para proteger a área e arredores.
O campeão europeu de 2017 foi o Real Madrid, que se tornou o primeiro bicampeão europeu na era UEFA Champions League, já que havia conquistado a
Liga dos Campeões na temporada 2015-2016, também. O Real Madrid de Zidane, foi aos poucos ganhando características próprias, sendo especialmente um time que se impõe por características e qualidades dos seus grandes jogadores. Juntos há algum tempo, os atletas merengues jogam quase que de memória em um jogo que não é de posição, mas por vezes, até parece. Os jogadores merengues não jogam em uma posição delimitada, mas um atleta conhece os movimentos do outro. O Real se caracterizou pelo jogo apoiado e cadenciado, e com ele, não deu chances aos rivais no mata-mata da Liga dos Campeões 2016-2017, conquistando também La Liga. O título europeu veio após uma vitória de 4 a 1 na final sobre a Juventus, equipe que se caracterizou por se adaptar bem às condições de cada jogo, sabendo controlar tempos e ritmos. Mas contra o Real, a qualidade e a competitividade merengue pesaram.
Vale lembrar que o Real Madrid encontrou percalços no começo da temporada 2017-2018, e mesmo a Juventus tem enfrentado dificuldades na Serie A, não por ter perdido nível, mas por ver seus rivais italianos cada vez mais competitivos. Uma das maiores dificuldades do Real na Espanha é ver na ponta um Barcelona que tem cada vez mais conseguido se adaptar a cada jogo, com brilhantes gestões de seu novo comandante, Ernesto Valverde. Com um time que tem uma posse lenta e pouco criativa, mas que auxilia na defesa e no controle de ritmos, ele conseguiu adaptar Paulinho, um centrocampista nada controlador, à um clube como o Barça, sem se desvencilhar de um homem símbolo do Pep Team como Iniesta, e ainda ativando o melhor possível de Lionel Messi. Real Madrid, Juventus, Barcelona e Manchester City, equipes citadas neste texto, são algumas das favoritas ao título da UEFA Champions League 2017-2018, ao lado de outros times como o Chelsea, responsável por popularizar a supracitada linha de 5 na Premier League, o Bayern, que voltou a ser treinado por Jupp Heynckes, e o PSG de Neymar, que treinado por Unai Emery tem optado por uma posse cadenciada nos dois terços iniciais de campo, e ritmo acelerado na parte final do campo. Ainda há o Manchester United de José Mourinho, que em 2017 conquistou a Liga Europa vencendo o Ajax na final com uma marcação por encaixes, que buscará ser eficiente também na Champions.
Falar sobre o universo tático, a herança deixada por 2017, e as expectativas para 2018, seria algo bom para se escrever um pequeno livro, mas tentamos fazer um resumo em um texto. Até por conta de 2018 ser um ano de Copa do Mundo, onde novidades podem surgir, mas especialmente modelos vão ficar socialmente marcados, por um evento de magnitude enorme.
Imagem: Reuters