Quando Tite assumiu o comando da seleção brasileira, em 2016, encontrou um cenário de caos, mas de maneira muito rápida e impressionante, conseguiu montar uma equipe com pegada nas duas áreas, algo que tem se mostrado fundamental nessa Copa do Mundo. Depois de começar o Mundial adotando um jogo mais posicional, o treinador brasileiro voltou ao seu modelo de jogo mais flutuante, para dar aos seus atletas a capacidade de se mover pelo campo e arrumar espaços com o drible, algo que Coutinho, William, e especialmente Neymar, sabem fazer muito bem. Ninguém dribla como o atacante do PSG. Se o drible de Messi é seco, e igualmente indefensável, o de Neymar é mais inventivo. Enquanto um foi forjado nas carteiras do Barcelona, o outro surgiu nas quadras de futsal em Santos. Com menos espaço, o Futsal praticamente obriga o jogador a driblar. E no Futsal, desvendamos muito do jogo de Neymar.


Brasil vs Belgica - Football tactics and formations

A Bélgica, também tem muito talento. A geração belga, ironicamente, encarou nessa Sexta-feira o mesmo país que lhe recebeu na volta às Copas do Mundo em 2014, quando caiu nas quartas-de-final, diante da Argentina. E era novamente contra um Gigante sul-americano, em aspectos territoriais e futebolísticos, que o país relativamente pequeno do norte da Europa tinha de superar os seus limites, para tentar voltar ao top-4 das Copas, algo que não ocorria desde 1986, quando a Argentina do Titã Diego Armando Maradona lhe derrubou.

Sabendo do tamanho do desafio que tinha, o treinador espanhol, que hoje comanda o selecionado belga, Roberto Martínez, escalou uma equipe adaptada, para superar o Brasil. Martínez trocou o sistema com três zagueiros, por um 4-3-3, com Kevin De Bruyne de "Falso 9", Hazard e Lukaku como extremos, e Fellaini e Chadli interiores, na frente do Witsel. Havia um espaço estratégico entre meias e atacantes. A intenção era buscar duelos aéreos e físicos entre os meias, explorando a baixa estatura dos centrocampistas e laterais brasileiros. Hazard castigava Fagner de um lado, e Lukaku atacava nas costas de Marcelo, no outro. Assim, obrigava Fernandinho a cobrir espaços, deixando o entrelinhas livre para De Bruyne, ou obrigando vários jogadores brasileiros a ficar da linha da bola para trás. Tite demorou para encaixar Miranda em Lukaku, o que de certo modo matou a transição belga, já que o nove estava na ponta. Não que o Brasil não tivesse criado suas chances, mas ao ver o que estava sofrendo, já perdia por 2 a 0. Primeiro, Fernandinho marcou contra. Depois, em uma transição puxada por Lukaku, o mesmo fez o pivô, e passou para de Bruyne, num belo chute, ampliar.

Se o plano de jogo da Bélgica superou o Brasil no primeiro tempo, na segunda etapa, foi o contrário. Tite sacou Willian para colocar Firmino, e tirou Gabriel Jesus, para colocar Douglas Costa em campo. Ganhou profundidade pelo lado direito, arrumou espaços com Neymar driblando pela esquerda, e jogou a Bélgica contra sua área. Com Renato Augusto, que substituiu Paulinho, chegando na área, o Brasil descontou com um gol do meia, de cabeça. O tento de empate até foi criado, mas o time brasileiro parou em Courtois, que teve a atuação mais importante de um goleiro nessa Copa do Mundo até aqui, classificando a Bélgica para as semifinais do Mundial.

O Brasil deixa a Copa do Mundo com um saldo positivo. Tite assumiu a seleção brasileira há menos de dois anos, e em pouco tempo transformou um time que flertava com a possibilidade de não ir para a Copa, numa equipe competitiva, que chegou ao Mundial com tranquilidade, como um dos favoritos, cenário impensável há quatro anos. Sai da Rússia de cabeça erguida, e com tudo para ter um ciclo positivo até o Catar.