Nos primeiros mundiais de futebol, a maioria das equipes baseavam seus sistemas no WM, no MM, e no WW, ou seja jogavam no 3-2-5, ou no 2-3-5, com dois zagueiros, três meias, e cinco atacantes, dois mais recuados, como interiores, e três na frente. A International Board foi evoluindo as regras do futebol e as táticas eram obrigadas a ir mudando. Num mundo ainda não tão globalizado, as Copas do Mundo eram quando os olhos do planeta se voltavam para o mesmo lugar. E ali, as evoluções ficavam marcadas.
O primeiro caso claro disto, se deu na Copa de 1954. A Hungria, com a base do Honved, time de um clube que espantava o planeta com seu futebol, aproveitou estes fatores para ser ainda mais forte. O técnico Gusztav Sebes puxou o centroavante Hidegkuti para trás, o colocando quase como um falso 9. Os extremos, Toth e Czibor atuavam de trás para frente, deixando na frente, Kocsis e Puskás. Zakarias saía da zaga para o meio, numa mescla do WM com o MM, que ficaria conhecida como o 4-2-4. Mais para frente, poderíamos identificar que um novo diagrama também era formado: o MW.
Em 1958, o quarto zagueiro já existia, e o 4-2-4, criado aqui no Brasil, também já era uma realidade. No Brasil de 1958, campeão do Mundo, o ponta-esquerda Zagallo, recuava para o meio, virando uma espécie de interior, e variando o esquema para o 4-3-3. Se em 1958 Zagallo foi um ponta de recuo, em 1962 ele foi um interior mesmo, deixando a ponta, por vezes, para Amarildo. O recuo de Zagallo ajudou a reforçar movimentações na Europa. Passaram-se a recuar os dois pontas para o meio, formando um losango, ou uma segunda linha de quatro. Se o losango e a marcação por zona ficaram como filhas do Soviético Viktor Mazlov, que passou a os empregar após a Copa do Mundo de 1958, o 4-4-2 passou a ser muito utilizado na Inglaterra, com um jogo intenso, direto, e de busca pela segunda bola.
Se o Brasil foi campeão em 1970 com um dito 4-2-4, que era na verdade um 4-2-3-1, com Pelé como ponta-de-lança, desfilando como um verdadeiro Deus do futebol, as evoluções seguiriam. Aquela Seleção brasileira de Zagallo não tinha centroavante fixo, e nem ponteiros dando amplitude. Os laterais Carlos Alberto e Everaldo é que davam largura ao campo, e Gerson e Clodoaldo eram os volantes/meias, enquanto Pelé hora era flecha, hora era arco, atuando por trás de Jairzinho, Tostão e Rivelino. Num futebol mais dividido e cadenciado, cabia ao rei ver as movimentações dos companheiros, e enxergar um buraco para passar a bola e se lançar. O futebol na prática é dos craques, e treinadores inovam para os potencializar. Este Brasil de 1970, mostrava bem isso.
Em 1974, apareceu ao mundo em uma Copa a Laranja Mecânica. O lendário time de Rinus Michels apresentou várias variações ao 4-3-3, e outros elementos, até então pouco utilizados, como a marcação pressão pós perda, linhas altas, e o uso de Johan Cruyff como um "falso 9". Cruyff esvaziava o ataque, e baixava à base da jogada, dando espaço para infiltrações suas, de Neskens, ou dos extremos, Rep e Rosenbrink. Laterais também apoiavam nos flancos, e um zagueiro se somava ao meio, variando para o 3-3-1-3. Nesta mesma Copa, a campeã foi a Alemanha, que em 1970 já tinha sido destaque. O time do técnico Helmut Schön imortalizou a já existente função de líbero, um jogador de defesa que saia muito do lugar. Nesta seleção germânica, ele foi Franz Beckenbauer, que saía para o apoio, mas fechava como um quarto-zagueiro, no 4-3-3. Seus laterais também apoiavam muito e bem, como os do Brasil, em especial Breitner, pelo lado canhoto. Esta seria a base para o futuro 5-3-2 germânico, com o recuo de pontas, e do 1° volante.
Já nos anos 80, a maioria das equipes passaram a atuar com dois atacantes. Na Copa do Mundo de 1982, o treinador Telê Santana levou à Copa do Mundo um Brasil pronto para transcender. Ele optou por montar uma equipe que reunia o conceito de ocupação de espaços da Holanda, e a capacidade intuitiva do jogador brasileiro de chegar aos locais do campo abertos. Assim, ele sacou o ponta direita titular Paulo Isidoro, titular durante toda a preparação, para a entrada de Paulo Roberto Falcão, que se juntou mais tarde ao grupo. Passou assim, Sócrates para a ponta-direita, mas o ídolo do Corinthians por lá não ficava, afundando para o meio, e deixando o corredor para outros jogadores, numa espécie de 4-4-2 em quadrado, assimétrico, só com um ponta pela esquerda. A seleção chegou na Espanha como favorita, e era tratada como uma legião de extraterrestres pelos estrangeiros.
O Brasil trazia também outras relevâncias táticas, com laterais apoiando em zonas interiores, ataque em bloco, e intensidade nas movimentações. Uma fórmula que tornava o time canarinho encantador, como também era a França, que tinha em Michel Platini um ponta que afundava ao meio, e em Girese, um interior que atacava o espaço aberto. Com esta base, estaria formado dois anos depois o Carre de France, com o qual os gauleses conquistaram a Euro em 1984.
Ainda na Copa do Mundo de 1982, a Itália se sagrou campeã com um sistema muito seu, e já questionado dentro do próprio contexto do Calcio. A equipe tinha três zagueiros, um deles sendo o líbero, um ala lateral, outro ala ponta, três volantes/meias, e dois atacantes. Os sistemas com três atacantes perdiam força, e a ocupação de espaços evoluía. A Alemanha, com o recuo de um volante, passaria a jogar muito 5-3-2, com a figura de um meia central e dois atacantes. Era o sistema 2-3-5 ao contrário, num movimento que ficou conhecido com a inversão da pirâmide. A Dinamarca, apelidada de Dinamáquina, também ficou famosa pelo seu sistema com três zagueiros, mas foi a Argentina de Carlos Bilardo, campeã no México, quem realmente marcou por esta tática.
Num futebol sem pontas, laterais podiam ser adaptados. Bastavam três zagueiros para defender bem a área, com dois encaixando nos atacantes rivais e um sobrando. A Argentina de Bilardo atuava com cinco meias, mais Maradona e Valdano se revezando na frente, entre desmarques de apoio e ruptura. A Argentina povoava o meio, e por lá dominava, ganhava. Em 1990, jogaria mais em um 5-3-2 mesmo, mas já havia deixado sua marca.
Esse esquema com três zagueiros dominou as Copas de 1986, 1990, e até 1994, onde não foi usado por Brasil e Itália, os finalistas, que optavam pelo 4-4-2. O técnico da Itália era o lendário Arrigo Sacchi, que no Milan, havia obtido muito sucesso, com táticas como o pressing e linhas altas, fazendo até com que regras fossem alteradas, como a do recuo ao goleiro, que agora só poderia ser recebido com os pés, e a do impedimento, que já não era mais caracterizado quando o atacante estava na mesma linha do penúltimo defensor.
O 3-5-2 também dominou a Copa do Mundo de 2002, utilizado pela Argentina, melhor seleção das eliminatórias, o campeão Brasil, a vice-campeã Alemanha, a semifinalista Coréia do Sul, o quadrifinalista EUA, a Itália, e outros times. Das seleções de destaque, só Senegal jogava no 4-3-3, enquanto a Turquia optou pelo 4-3-1-2. Mas, num Mundo já mais globalizado, as novas regras e a internacionalização apressaram evoluções, após uma grande revolução.
Ainda em 1998, na França, o 4-5-1 foi usado pela Noruega. O treinador brasileiro Carlos Alberto Parreira, chegou a citar que o 4-6-0 era o esquema do futuro. Mas na Copa do Mundo de 2006, várias seleções usaram o sistema 4-2-3-1, como a vice-campeã França. Em 2010, na época da Copa do Mundo da África do Sul, este sistema já era quase que epidemia. Os extremos haviam retornado, com força. Eles eram importantes em um futebol onde as mudanças de regra haviam alterado as questões de amplitude e profundidade.
A Copa do Mundo de 2014, no Brasil, mostrou uma enorme variação de sistemas. Colômbia, Brasil, e Argentina jogavam no 4-2-3-1, buscando potencializar James, Neymar e Messi. México, Costa Rica e Holanda jogavam com linhas de cinco atrás, enquanto a França e a campeã Alemanha iam de 4-1-4-1 na maior parte dos jogos. Mas todas buscavam se adaptar às novas tendências do futebol do século XXI, e acima de tudo, potencializar seus craques, e minimizar as ações do rival, que na verdade são, desde os princípios, a verdadeira função de um treinador de qualquer esporte coletivo.
0 Comentários