A história do Futebol

Até os dias de hoje, é difícil uma equipe do leste europeu competir em igualdade, com as da parte Ocidental do Continente. Se nos anos 2000, algumas equipes da endinherada liga russa já chegaram a conquistar a extinta Copa da UEFA, assim como o ucraniano Shakhtar Donetsk, o primeiro clube  a desbravar fronteiras da cortina de ferro e conquistar um título continental foi o Dínamo de Kiev. Ainda nos anos de 1970, na época da extinta União Soviética, o clube branco e azul alcançou o sucesso continental, apostando em táticas modernas para a época, e que ajudaram funcionalmente na grande revolução que o esporte sofreu.

O grande responsável por transformar o Dínamo de Kiev em uma máquina de jogar futebol foi o técnico Valeriy Lobanovskiy. Após encerrar a carreira de jogador, ele assumiu como treinador do Dnipro Dnipropetrovsk no ano de 1969. Em uma época sem os sistemas e aplicativos atuais, ele reunia uma enorme quantidade de estatísticas, e a partir daí elaborava estratégias e jogadas ensaiadas, baseadas na qualidade de seus jogadores, e nas deficiências dos rivais, analisados de maneira minuciosa. Assim, ele levou o Dinipro a competir em igualdade com as principais potências do futebol soviético, como o Dínamo de Kiev, o Spartak Moscou e o CSKA Moscou.

E Lobanovskyi se destacou tanto, que em 1973 acabou assumindo o cargo de treinador do Dínamo, no lugar do demitido Sevidov. O gigante havia acabado de perder o campeonato soviético para o Ararat Erevan, equipe armênia que surpreendeu o país.  Era necessário inovar para retornar ao topo, e Lobanovski era o homem certo. Ele implantou na capital ucraniana a sua mesma filosofia de trabalho empregada em Dnipropetrovsk, e obteve enorme sucesso.

Assim como acontecia com o Ajax de Rinus Michels, o Dínamo de Lobanovskyi pressionava o adversário ainda em seu campo e valorizava a posse de bola. Mas, se na equipe holandesa o sistema de troca de posições, conhecido como carrosel, era algo normal, no Dínamo, os jogadores tinham de guardar posição, obedecendo as ordens do treinador. O coletivo era a prioridade, e não o individual. Mas, mesmo assim, alguns nomes acabavam se destacando.

Com esta idéia, o Dínamo Kiev se consolidou como o grande clube Soviético dos anos de 1970. Conquistou o Campeonato Soviético três vezes, nos anos de 1974, 1975 e 1977, além da Copa da União Soviética em 1978. Mas, a grande cereja do bolo do time Lobanovskyi foi os títulos da Recopa e Supercopa da UEFA em 1975, ano em que o craque Oleg Blokhin recebeu a Bola de Ouro da revista France Football.

Na grande decisão da Recopa, o Dínamo bateu os húngaros do Ferencváros por 3 a 0, com dois gols de Onyshchenko e um de Blokhin. Na Supercopa da UEFA, o time derrotou o grande Bayern de Munique, de Gerd Müller e Franz Beckenbauer. A taça veio após um triunfo em Munique por 1 a 0, e outro em Kiev por 2 a 0, sempre com gols marcados por Blokhin. Futuramente, em 1977, o Dínamo novamente surpreendeu e bateu o Bayern, eliminando o time nas quartas de final da Copa dos Campeões 1976-1977, com mais uma vitória por 1 a 0 em Munique. Outro time alemão, no entanto, acabou colocando fim ao sonho do Dínamo de conquistar a maior competição da Europa: o Borussia Mönchengladbach, que triunfou por 1 a 0 em Kiev, e por 2 a 0 na Alemanha.

Nos anos de 1980 e 1981, o Dínamo de Lobanovskyi novamente se sagrou campeão Soviético. O comandante acabou deixando o comando do time ao final deste ciclo, para assumir o comando da Seleção soviética, retornando em 1984, mesmo ano em que outro grande craque, Igor Belanov, foi contratado junto ao Chornomorets Odessa.

A temporada 1985-1986 foi frutífera para o Dínamo de KIev. Além do sucesso interno, o clube fez uma grande campanha na Recopa da UEFA, eliminando Utrecht, Universitatea Craiova, Rapid Viena e Dukla Praga, até chegar na final. A decisão da Recopa 1985-1986 foi disputada no Estádio Gerland, e o Dínamo teria como adversário o Atlético de Madrid, do técnico Luis Aragonés. Com gols de Zavarov, Yevtushenko e Blokhin, os alviazuis bateram os colchoneros por 3 a 0, em uma atuação espetacular. A pena foi que o bicampeonato da Supercopa acabou não vindo, pois o time acabou perdendo a sua decisão para o Steaua Bucareste por 1 a 0, que marcou seu gol com Gheorghe Hagi.

Dynamo Kiev lobanovsky tactics
Assim atacava o Dínamo na final da Recopa de 1986.


O Dínamo cedeu boa parte da base da seleção da URSS que fez uma boa campanha na Copa do Mundo de 1986, incluindo o técnico Lobanovskyi. Após passar bem pela primeira fase, derrotando a Hungria e o Canadá, e empatando com a França de Platini, os soviéticos só deram adeus ao torneio mundial nas oitavas de final, perdendo para a Bélgica, na prorrogação, por 4 a 3. Os três gols soviéticos foram marcados por Igor Belanov, que no final do ano, recebeu a Bola de Ouro, superando nomes como Platini, Lineker, Butragueño, Hagi e Elkjaer.

Ainda com a base do Dínamo de Kiev, a URSS acabou sendo vice-campeã da Euro 1988, perdendo a final para a Holanda de van Basten. Em 1990, o Dínamo se sagrou campeão do Campeonato Soviético pela última vez. No começo dos anos de 1990, a União Soviética se desintegrou como país, e o Dínamo acabou passando por dificuldades. Contudo, o clube voltou a se fortalecer nos anos seguintes, se tornando a grande potência do futebol ucraniano, e inclusive fazendo boas campanhas na UEFA Champions League, onde chegou inclusive nas semifinais, no final da década.

Depois de treinar a URSS na Copa do Mundo de 1990, Lobanovskyi passou seis anos trabalhando no futebol árabe, e treinou as seleções dos Emirados Árabes e do Kuwait. Voltou ao Dínamo de Kiev em 1997, justamente no melhor período do clube na era Ucrânia. Entre 2000 e 2001, Lobanovskyi treinou a Seleção Ucraniana, que acabou eliminada na repescagem para a Copa do Mundo de 2002, pela Alemanha, que se sagraria vice-campeã Mundial.

Neste mesmo ano de 2002, Lobanovskyi acabou falecendo. Contudo, deixou o seu legado, que é enorme. Assim como Rinus Michels, Cruyff e Guardiola, Lobanovskyi sempre pregou o futebol bem jogado, priorizando o coletivo e as inovações táticas, algo que até os dias de hoje se mostra vital para o esporte.