Nos últimos anos, o Barcelona e as demais equipes de Guardiola encantaram o mundo do futebol. Pep, e outros técnicos de sua geração, como Mourinho, Klopp, Conte e Sampaoli, beberam muito da fonte de conhecimento de Arrigo Sacchi, Marcelo Bielsa, Louis van Gaal e Johan Cruyff. Estes, discípulos e/ou admiradores de nomes como Rinus Michels, que foi muito influenciado pelo conhecimento de Viktor Maslov, considerado por muitos o pai do futebol moderno, embora esta seja uma definição genérica e imprecisa, sobretudo por conta do amplo significado e contexto de moderno. 

Viktor Maslov nasceu no começo da década de 1910, no Império Russo, que anos depois daria origem à União Soviética, em 1917. Foi jogador, e futuramente, virou técnico. Maslov era um admirador da seleção brasileira campeã mundial de 1958. Nesta época, ele era treinador do Torpedo de Moscou. E aquela seleção brazuca mudou para sempre a sua filosofia táctica.O que mais chamou a atenção de Maslov no selecionado canarinho do técnico Zezé Moreira, foram os recuos de Mario Zagallo, extremo esquerdo brasileiro até a linha de meio-campo, transformando o 4-2-4  em um 4-3-3. Isto dava liberdade para Didi e os laterais se somarem ao jogo ofensivo. Então, os clubes soviéticos abriram mão do WM, sistema mais utilizado pelos clubes da liga soviética, herança da Hungria. Maslov passou a jogar no 4-2-4 variando para o 4-3-3.

Anos depois, Bela Guttman, aplicou a mesma estratégia no Benfica. E a isto, se somou uma intensa pressão ao portador da bola, em todas as partes do campo. Todo o time apertava o jogador que tinha a posse de bola, forçando o erro, e buscando a retomada do esférico o mais rápido o possível. Em 1964, Maslov assumiu o comando do Dynamo de Kiev, clube mais importante da Ucrânia. O principal jogador do Dynamo era o ponta Valery Lobanovsky, extremamente talentoso, mas de muitos dribles e pouca participação nos movimentos defensivos. Maslov acreditava que a presença de dois pontas bem abertos em um 4-2-4 não era algo necessário, e resolveu recuar os seus extremos, passando a jogar em um 4-4-2.

Valery Lobanovsky acabou deixando o Dynamo, e Maslov pode colocar em prática seus planos. O pressing, a pressão exercida no portador da bola, passou a ser executadada de maneira com que o rival ficasse desorientado. Quando um jogador acabava driblado, não saia correndo atrás do rival, pois havia uma cobertura por três, já que as linhas estava adiantadas. A transição ofensiva também era facilitada, com a linha do meio-campo subindo e descendo no campo de jogo, de acordo com a localização da bola.

Maslov colocou Szabo, na mesma função que Didi, por trás dos atacantes Byshovets e Puzach, e com três meio-campistas atrás. Assim, levou o Dynamo Kiev à conquista de duas ligas soviéticas, e deu muito trabalho ao Celtic, na Copa dos Campeões de 1966/67. A ocupação dos espaço, passava a estar na frente da busca pela vantagem individual. Desde Jimmy Hogan e Herbert Chapman, nenhum outro técnico havia inovado tanto assim no esporte. Anos depois, Mazlov levou o Torpedo de Moscou ao título da Copa da União Soviética. Posteriormente, assumiu o comando do Ararat Yerevan, clube armênio, que conduziu à um histórico título soviético histórico.

Mais do que isto, seus conhecimentos foram usados por Rinus Michels e o mesmo Valery Lobanovsky, anos depois. A defesa por zona e o pressing seriam a base do Futebol total e do Jogo de posição de Guardiola e Cruyff, dando base também aos ensinamentos de Arrigo Sacchi, e à escolas como o bielsismo e o lavolpismo. Até hoje, estes conceitos estão em plena evolução, mas são de Maslov os primeiros registros destes conhecimentos.



Imagem: Eurosport