Um dos trabalhos mais controversos de um treinador na história recente do futebol foi o de Louis van Gaal no Barcelona. O treinador holandês foi reconhecidamente um dos mais talentosos e polêmicos comandantes de sua geração, e armou esquadrões no Barcelona, no Bayern de Munique e no Manchester United, que anos depois dariam resultados, evoluindo nas mãos de Rijkaard, Heynckes e Mourinho. Além disto, viveu bons e maus momentos na seleção holandesa, mas na Eredivisie, foi Rei.
Louis van Gaal chegou ao Barcelona no começo da temporada 1997-98, após uma passagem histórica pelo Ajax, onde debutou como treinador e conquistou, entre outros títulos, a Copa da UEFA, a Liga dos Campeões, e o Mundial Interclubes. A intenção de de José Luis Núñez era começar um novo projeto, e fazer ele tão vencedor como foi com Johan Cruyff, com quem van Gaal tinha uma certa inimizade, por conta de discordâncias quanto ao desempenho das equipes. No Barça, entre Cruyff e van Gaal, Sir Bobby Robson conquistou três títulos (Supercopa, Copa del Rey e Recopa da Europa), mas havia a sensação de que mudar era necessário.
Desde seu primeiro dia de trabalho no Barcelona, van Gaal implementou a sua filosofia, de que se treina como se vive, e se joga como se treina. Do Ajax, van Gaal levou para o Barça atletas como Michael Reiziger e Winston Bogarde, além de Ruud Hesp, que ele conhecia do Roda. A famosa “La Quinta del Mini”, composta por Celades, Roger, Òscar, De la Peña e outros canteranos ascendidos por Cruyff, foi perdendo espaço, chocada pelo estilo intenso de LvG. Seu primeiro time tinha Rivaldo como grande estrela, alinhando ao lado de otros grandes futebolistas, como Figo, Luis Enrique e Guardiola. Logo na sua primeira temporada no Camp Nou, van Gaal conquistou o doblete, somando os títulos de La Liga e da Copa del Rey, algo que não ocorria com o Barça há 40 anos. Ainda acabou ganhando a Supercopa da UEFA, mas a eliminação na fase de grupos da Champions, em chave onde perdeu para o Dínamo de Kiev, com uma contundente derrota de 4 a 0, após passar por apuros contra o letão Skonto, e a perda da Supercopa local contra o Real Madrid, geraram muita frustração.
Na temporada seguinte, van Gaal conquistou novamente o título de La Liga. Mas esta segunda temporada, foi bem mais de atritos. A derrota na Supercopa espanhola para o Mallorca de Héctor Cúper, foi um começo ruim. O clima piorou após a precoce eliminação na Champions League, desta vez pegando Bayern e Manchester United. Na sequência de seu trabalho, Louis van Gaal requisitou as contratações de cinco compatriotas para o elenco: Patrick Kluivert, Cocu, Zenden, e os irmãos Frank e Ronald de Boer. A partir daí, a terceira temporada foi de bom rendimento, mas resultados frustrantes. O Barcelona perdeu a Supercopa espanhola, e foi eliminado nas semifinais da Liga dos Campeões pelo Valencia. Em La Liga, lutou pelo título até o final, ficando atrás do Deportivo La Coruña. Além disto, caiu nas semifinais da Copa del Rey, tendo dificuldades para compor elenco, após ceder diversos atletas à suas seleções nacionais. Assim, ao final desta temporada 1999-2000, van Gaal deixou o Camp Nou, assumindo a seleção holandesa, com a qual não conseguiu classificação para a Copa do Mundo de 2002.
Mais do que montar um time que foi, semanalmente, durante a reta final de sua passagem, o melhor da Europa, alternando sistemas entre o 4-4-2 em linha, o 4-3-3 e o 4-2-3-1, van Gaal deixou como legado no Barcelona a consolidação de um já consolidado jogo de posição, promovendo diversos canteranos, como Xavi Hernández, Carles Puyol e Gabri, tendo como um de seus assistentes José Mourinho, que anos mais tarde lideraria o Chelsea, a Internazionale e o Real Madrid, que seriam antagonistas do Barcelona de Rijkaard e, especialmente, Guardiola.
Em 2002, van Gaal voltou ao Barcelona, como treinador. Mais uma vez foi polêmico, pois chegou ao clube se desfazendo de peças como Rivaldo, Abelardo e Sergi, na busca por reforços extra-comunitários, e implantar um sistema de jogo ofensivo com três defensores. Chegaram ao Camp Nou esforços como o goleiro alemão Robert Enke, o mediapunta argentino Juan Román Riquelme, e o centrocampista espanhol Gaizka Mendieta, além do lateral argentino Juan Pablo Sorín. Ainda promoveu mais canteranos, como Víctor Valdés, Oleguer Presas, Andrés Iniesta, Fernando Navarro e Sergio García, montando um elenco fantástico, mesmo sem muita inversão financeira.
Mesmo com uma boa participação na Liga dos Campeões, van Gaal não conseguiu fazer seu time render bem em La Liga. Acabou demitido depois de perder por 2 a 0 para o Celta de Vigo em fevereiro, sendo substituído pelo sérvio Radomir Antić no comando técnico. O novo comamdante classificou o time para a Copa da UEFA, terminando a Liga das Estrelas na 6° posição, e chegou nas quartas-de-final da Champions League.
Ainda em 2003, Ronaldinho Gaúcho foi contratado pelo Barcelona, após deixar o PSG. Frank Rijkaard assumiu o comando técnico, canteranos foram ganhando cada vez mais espaços, e reforços chegando. Uma nova era se iniciou na Catalunha, com a formação de um time histórico, que faria história.